A Bilhardice

Projeto de Intervenção Estético-artística para a Cidade do Funchal
A Bilhardice: projecto de intervenção estético-artística para a cidade do Funchal fo um projeto produzido para a Comissão Funchal 500 anos. A importância da sua contextualização e enquadramento passa pelo necessário desenvolvimento e exploração dos vários conceitos determinantes para a fundamentação de um trabalho artístico que se inspira em várias disciplinas. Sob o ponto de vista teórico, a definição e conceptualização do próprio tema impõe a pesquisa de conteúdos que passam pela linguagem ou pela perspectiva evolutiva da bilhardice/bisbilhotice, no âmbito das relações humanas. A Bilhardice interpessoal e de massas constitui-se mote para a concretização de um projecto aberto à participação activa do público e de especialistas que, através das conferências que proferiram, contribuíram para a sua contextualização e legitimação.
A importância da conceptualização de espaço público, através de uma abordagem sociológica, torna-se indispensável numa intervenção artística em espaço comunitário. Conceitos como cidade e identidade, lugar e não-lugar, associados aos meios de comunicação, como a televisão ou Internet, acabam por definir o espaço público onde se desenvolve o quotidiano social. Por outro lado, a referência aos lugares públicos da arte constitui uma abordagem geral ao que determina e contextualiza o projecto na arte contemporânea.
Tendo em conta que se trata de um projecto de arte pública efémera, happening e instalação, é indispensável a referência ao que se entende por arte pública, nas suas múltiplas vertentes. Tratando-se de uma intervenção projectada para um lugar específico, para além das escolhas que constituem a execução do trabalho, torna-se evidente a importância da site-specificity num projecto que aconteceu no Passeio Público do Funchal e foi construído com elementos que citam a arquitectura civil da Região Autónoma da Madeira, os seus costumes ou tradições.
Com este projecto articulam-se vários entendimentos de carácter multidisciplinar, ao mesmo tempo que se aborda uma temática profundamente enraizada no social – a bilhardice. Para além de ser sinónimo de bisbilhotice, constitui-se ponto de partida para um projecto de arte pública efémera e instalação, e impõe a reflexão acerca de conceitos que se ligam aos seus modos e meios de acção. Por se tratar de um fenómeno social que acontece em vários ambientes, rurais ou urbanos, torna-se indispensável a abordagem às questões ligadas ao público e ao privado, bem como aos meios de comunicação. Por outro lado, a pertinente referência ao carácter psicológico e social da bilhardice, contribui para a compreensão dos mecanismos de propagação e a sua função, segundo a perspectiva de Charlotte De Backer, investigadora do Departamento de Média e Comunicação da Universidade Leicester.Tendo em conta o tema escolhido e a sua conceptualização exploram-se, para além do conceito de bilhardice, temas ligados ao espaço comunitário, onde decorre o quotidiano social e se desenvolve a bilhardice, que pode ser interpessoal ou de massas. Do espaço urbano ao virtual, da cidade à cibercidade define-se o espaço público como o lugar onde é promovida a circulação de informação.É através do recurso aos elementos constituintes do quotidiano madeirense que se reúne, numa manifestação artística contemporânea, o património material e imaterial da região. Este projecto surge num contexto particular e cita os elementos arquitectónicos que, característicos das tipologias regionais, materializam os conceitos anteriormente referidos. No que diz respeito ao conceito, a sua apresentação na Avenida Arriaga, antigo Passeio Público do Funchal, sublinha as questões identitárias urbanas que adquirem especial valor para a reflexão acerca das noções de lugar e não-lugar. Por ser um projecto Site-specific, o espaço envolvente e a presença do espectador são partes integrantes do trabalho. A interactividade, o diálogo que se estabelece entre as peças e o público determina a importância do contexto onde surgem. Deste modo, a presença dos Postos de Bilhardice em diversos pontos da Avenida Arriaga, e a intervenção arquitectónica que cria uma Central da Bilhardice no Salão Nobre do Teatro Municipal Baltazar Dias, intensificam o carácter performativo deste projecto.
Para além do patrocínio oficial da Câmara Municipal do Funchal e da Comissão Funchal 500 Anos, outras entidades se associaram ao projecto: a Direcção Regional dos Assuntos Culturais, a Associação Académica da Universidade da Madeira, a Associação de Estudantes de Arte e Design da mesma instituição, e o Conservatório – Escola das Artes da Madeira. Assegurou-se assim, a vinda de dois convidados relevantes, no que diz respeito ao panorama artístico nacional: a artista plástica e professora Luísa Cunha e o Professor Doutor Alexandre Melo, crítico e curador. Especialistas da Universidade da Madeira também compareceram, contribuindo para a contextualização do projecto: os Professores Doutores Isabel Santa Clara (orientadora), Carlos Valente (co-orientador), Diana Pimentel e Helena Rebelo. Constituíu-se assim, uma mesa redonda tripartida que produziu diversas reflexões que iam desde a Sociologia da Arte, à Linguística, à Literatura, passando pela Arte e Multimédia ou Arte Contemporânea. 
A participação dos alunos do curso de Teatro/Interpretação do Conservatório-Escola das Artes, dirigido pelo professor e actor, Eduardo Luíz, bem como a colaboração dos alunos dos cursos de Animador Sociocultural e Técnico de Apoio à Infância da Escola Profissional de Agentes e Apoio Social-ASAS garantiu a dinâmica estabelecida entre os Postos de Bilhardice e os transeuntes da cidade.